segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Um velho escrito achado por ai

O monólogo era constante. Acompanhada daquele café – do jeito de sempre, por favor -, e convicções momentâneas sobre cada indivíduo indiferente que lhe sorria naquele hall. Talvez por educação, talvez por pena, quem vai saber? Insistiu em ficar mais um pouco. Talvez hoje fosse diferente, talvez encontrasse alguma boa alma que se propusesse a lhe acompanhar até em casa, iriam se despedir junto com o pôr do sol assim que virasse a esquina da Rua 26, e combinariam de se esbarrar por ai – que tal amanhã, no mesmo horário? – ele iria propor. Ando vendo comédias românticas de mais, pensou. Tomou uma última golada do café que agora estava frio, esperou um momento e se foi. Poucas coisas faziam-na completa, mendigando emoções para continuar respirando. Subiu à escada, o corrimão era áspero, enfiou a chave na porta e precisou dar algumas prensadas até abrir. Deixou a bolsa no chão, olhou aquele lugar que parecia ter sido revirado por algum tipo de vândalo. Estava em casa. Resolveu tomar aquele resto de vinho barato da noite passada, e assistir de camarote toda aquela porra louca – sua vida. Todas as noites ao som do mesmo vinil deixava a música sugar o pouco dela que ainda estava ali. A pulsação era sempre uniforme, não parava e nem a matava. Naquela noite a janela soprava calor, e o seu suor fundiu-se com aquelas lágrimas e tornaram-se um só. Salgado. Pegou o telefone, mas não se lembrava de nenhum número para discar. O vinil começou a engasgar até que a música parou. Aquele cômodo ficou sem som e sem forma. E ela continuou lá, murmurando a música e sentindo o gelado do chão que deitara. Pensou se dessa vez teria a sorte de não acordar, e já de olhos fechados, se apagou.

***

Achei esse textinho que escrevi a uns anos atras. Enquanto eu lia fui sentindo um nó na garganta e torcendo para um desfecho mais feliz. Eu tinha um costume de escrever coisas apenas por escrever, ver onde iria dar. Mas a verdade é que nada é atoa. Até algo que escrevemos por escrever tem um significado, mesmo que a gente não consiga ver qual é. Hoje, olhando pra trás, a verdade é que ainda não consigo. 

Até ;)

2 comentários:

  1. Eu espero que você traga mais escritos para a gente! Você escreve do jeito que eu gosto, com fluxo de pensamento e desconstrução do ideal. Me lembra a Clarice, é nela que me inspiro a escrever. Você escrevendo me lembra como eu escrevo, ou costumava escrever. Palavras são lindas, e duras.
    Beijos,
    Clara.
    claraaoliveira.blogspot.com

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    1. Ah obrigada pelos elogios Clara! Escreve assim quando as palavras simplesmente tomam o controle de mim e não consigo lutar contra. Vou tentar trazer mais vezes sim! Um beijo!!

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